sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Artigo: Dia de Consciência Negra

O sistema escravagista instalado no Brasil foi uma forma extrema de exploração da espécie humana por membros da mesma espécie, fazendo do semelhante uma propriedade. Todavia, os primeiros sinais de resistência surgiram ainda nos navios. Foram registradas várias revoltas, como a do navio L’Africain, em 1738.

A prática de aborto, para não dar à luz um filho escravo, o suicídio e a greve de fome foram recursos de resistência que prejudicavam os senhores do regime escravagista brasileiro. Outra forma de resistência eram as fugas, as quais deram origem aos quilombos. O mais conhecido deles foi o de Palmares, verdadeiro sistema de produção alternativo à sociedade colonial, que resistiu por quase 100 anos.

Após a “abolição”, o povo negro continuou resistindo à dominação. Um exemplo foi a Revolta dos Marinheiros Negros, liderada por João Cândido em 1910. Pela cultura também houve resistência. Caso das organizações carnavalescas, como o Afoxé Filhos de Gandhi, em Salvador, de 1949, ligado às greves dos estivadores do Porto de Salvador. Esses irmãos eram trabalhadores organizados na Bahia.

Entretanto, donde vinha a força para resistir até a morte? Uma das fontes dessa força foi, sem dúvida, a religião. Mais especificamente do Candomblé. Sempre houve uma íntima ligação entre o Candomblé e as lutas de resistência do povo negro. Muitas histórias de formação de quilombos na Bahia estão ligadas à constituição de um terreiro, solo sagrado.

O espaço do candomblé é a natureza. É uma religião ligada à terra. Celebrar a comunhão com os orixás é receber a “axé” (força) da natureza para resistir e contra qualquer sistema opressor que negue vida, justiça, pão, universidade, paz e liberdade. Participar do terreiro é assumir o compromisso com a luta pela libertação. E hoje esse terreiro engloba toda a Terra, que mesmo ferida pelo modelo econômico que vigora, permanece, com a ternura e beleza de Yemanjá, a Mãe sempre pronta para amamentar seus filhos e filhas. Axé!

CÉLIO RIBEIRO|Padre e professor universitário 

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,182,3115443,15935

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